Não me lembro com que idade vi esta peça da Disney, aqui numa maravilhosa versão narrada pelo David Bowie (existe uma versão portuguesa narrada pela Eunice Muñoz, embora na minha cabeça a narração era feita por um homem), mas tenho a certeza de que era muito novo e esta curta teve bastante impacto em mim, lembro-me de rever até a cassete ficar gasta e de ter medo, tinha medo disto, do Thriller do Michael Jackson e da derrotas do Benfica. Não deixa de ser curioso que, ultimamente, tenho conseguido encontrar, com bastante precisão, o motivo de certas situações ou lugares me trazerem um sentimento familiar, talvez a minha ligeira obsessão com os clássicos russos da literatura venha desta composição de Prokofiev.
E isto tudo para falar dos lobos, esse animal que tanto prezo e que sonho domesticar, tipo Jon Snow e o seu Ghost. Parece que não posso, diz que é ilegal. Talvez tenha um Husky, a seguir, se sobreviver emocionalmente à partida do meu cão.
Entretanto, comecei a ler isto, com expectativas demasiado altas para o meu gosto:
Uma reportagem sobre pastores e lobos, no interior português? Contem comigo. Estou a gostar, embora não tenha, para já, a riqueza literária de livros semelhantes como o Agora e Na Hora da Nossa Morte ou mesmo o Aleluia!. Mas até ver, e como tem o bónus dos lobos, vamos bem (tirando a parte do lobo ser um animal em vias de extinção).
Em termos de lobos nos livros, não podia deixar de mencionar esta maravilha:
Livro que muito prezo, e cuja primeira parte se centra na jornada do jovem Billy Parham até ao México para devolver uma loba que tinha capturado, depois de ter andado a sonhar com lobos. Se uma pessoa, para descrever o livro, utiliza a palavra lobo ou seus derivados mais que uma vez, então vamos no bom caminho. Sendo escrito pelo McCarthy, acho que conseguem desde já perceber que a coisa não vai correr pelo melhor na sua jornada. Toda a descrição da captura da loba, bem como dos seus movimentos, movimentações e instintos, são brilhantes. Sem querer entrar em terreno de spoilers, preocupei-me mais com o destino da loba do que de noventa por cento dos personagens de todos os livros que li. O McCarthy também menciona lobos noutras obras (com o Meridiano de Sangue à cabeça, claro), mas é neste que ele é mais forte e mais se alonga sobre o belo animal. "He said that men believe the blood of the slain to be of no consequence but that the wolf knows better. He said that the wolf is a being of great order and that it knows what men do not: that there is no order in this world save that which death has put there.”
O Sonhos e Comboios é um romance catita, pequeno, lê-se muito bem e, lá está, tem um lobo. Uma rapariga-lobo, "a creature God didn’t create. She was made out of wolves and a man of unnatural desires.", que depois se torna num lobo real.
Claro que um livro chamado Quando Os Lobos Uivam só podia estar destinado à grandeza: e é, sem dúvida, um livro do caraças. O linguajar das beiras pode provocar confusão a alguns mas não distrai da riqueza da obra (a passagem sobre a estadia no Brazil de uma personagem é dos melhores pedaços de literatura portuguesa que eu já li). Este livro tem lobos e dos bons, lobos da Beiras como deve ser. Mais uma vez, uma pessoa acaba por se afeiçoar ao bicho e depois já se sabe.