29 de julho de 2015

Ponto final


Sempre fui especialmente bom em deixar coisas morrer: peixes, amizades, amores e também, pasme-se, blogs.  E assim se encontra este blog: num lento e suave definhar até ao esquecimento que, afinal de contas, nos espera a todos. Um blog que nasceu de um outro blog que representou uma fase da minha vida, uma fase sobretudo com coisas más: era um blog feio, com um arame farpado como fundo, com textos a condizer, nada deprimente como podem imaginar. 
Este blog também acaba por representar uma fase da minha vida, e acho que essa fase, tal como o blog, terminou. Não sei se sou uma pessoa diferente, apesar de me sentir diferente. Sei que estou muito melhor do que quando comecei este blog. E melhor acompanhado. Assim, está na hora de deixar algo morrer outra vez, porque, a seguir a uns blogs parece que podem vir outros. A ver vamos. 

1 de julho de 2015

Companheiros Detectives


O tema é Dúvida, Prosa (5000 a 15000 caracteres); Poesia (3 a 7 poemas). Textos para detectivesselvagens@gmail.com até 31/08. Convidem os vossos amigos. Eu sei que eles querem.

22 de junho de 2015

2016 é longe demais


Lá em casa ficou tudo à espera de mais. Agora é tentarmos não gastar o dinheiro todo em manga e bonecos do Attack on Titan.

5 de junho de 2015

Trilogia da Fronteira

Eu estava à espera de sangue, violência, morte, afinal de contas é o Cormac McCarthy, uma pessoa sabe ao que vai. Ainda assim, este reencontro deixou-me desanimado com o seu fim. No livro que encerra a Trilogia da Fronteira (iniciada com o Belos Cavalos, seguido de A Travessia), voltamos a encontrar John Grady Cole, o cowboy coninhas e apaixonado do primeiro livro, e Billy Parham, o cowboy badass que salva uma loba no segundo, há lá coisa mais badass do que ir ao México levar uma loba de volta ao habitat natural dela. Claro que, sendo o McCarthy, em ambos os casos as coisas não correm muito bem. Neste reencontro, anos após os primeiros livros, os dois são amigos e brincam aos cowboys perto da fronteira e um deles (adivinhem qual) apaixona-se por uma puta mexicana epiléptica, pertença de um chulo que usa camisas de seda tipo Jorge Jesus na altura do Felgueiras. Não percebo, aliás, como é que o autor nao mencionou isso. Apesar de saber que as coisas iam correr mal, fiquei lixado com o desenrolar da história. Este livro foi escrito antes dos outros dois e era supostamente um guião. Isso nota-se pela existência de mais diálogos e menos prosa épica. Uma pena, mas ainda assim é jeitoso. Aconselho vivamente a trilogia. E fica uma lição para todos: se és cowboy e gostas de mulheres ou animais, não vás ao México, acontecem coisas e depois é uma maçada.

4 de junho de 2015

E eu ia só naquela de fazer companhia


É preciso uma hecatombe para voltar ao blog

Penso que não haverá assunto que divida mais do que a saída do Jesus. Já agora, sei que há um jackpot do euromilhões na sexta mas, a haver alguma influência divina na minha vida, que seja a vinda do Jurgen Klopp. Tenho dito.

4 de maio de 2015

Lello e Irmão, pensas que vais gostar só que não

Depois de muitas vezes ter passado à porta e me ter esquivado a entrar na Lello (afinal de contas, de livrarias estava eu muito, mas muito bem servido), lá fomos nós, este fim-de-semana, visitar finalmente a mais bela livraria do mundo ou lá o que lhe chamam. Confesso que fiquei desiludido: não consigo olhar para uma livraria sem pensar em coisas como taxas de conversão e critérios de arrumação e adequação do produto ao público que a visita. A escadaria é muito gira, sim senhor, mas de resto... Uma quantidade de monos inacreditável, apenas um gajo na caixa, com apenas uma caixa aberta, dois seguranças (?) a controlar as pessoas na entrada e nas escadas, e livreiros nem vê-los. Uma livraria sem livreiros? Não me parece. Que gajo do Porto é que pensa: ah, quero um livro, deixa-me ir a um sítio onde tenho de ficar dez minutos na fila para entrar e depois não conseguir encontrar o que quero enquanto sou abalroado por turistas japoneses e me gritam ao ouvido em espanhol? Deduzo que ninguém. A oferta pareceu-me desadequada. Havia excesso de livros.  Eu até gosto de uma boa desarrumação numa livraria, mas a Lello passa dos limites.  De qualquer forma, isto sou eu que sou esquisito, entre outras coisas, em termos de livrarias. 

A nova da Catarina

Hoje tinha uma t-shirt de Nirvana. Diz que se fartou de ouvir o Smells Like Teen Spirit nas duas semanas que esteve em casa, doente. Eu digo que é estranho, que tenho a discografia toda de Nirvana em casa e que ela nunca ligou nenhuma e ela responde que isso era dantes e que agora gosta muito e vai ouvir. Estou para ver. Tenho uma filha com uma t-shirt de Nirvana. Algo que eu ouvia com a idade dela. Não sei bem o que pensar disto. 

18 de abril de 2015

16 de abril de 2015

Melhor. Reunião de Trabalho. De SEMPRE


Imperdível. E eu fui sozinho. No escuro, pelos corredores: sozinho. Não é sozinho com um grupo de pessoas que não conheço. É SOZINHO tipo eu e o meu medo. O dono do espaço, pessoa que sente e vive isto como ninguém, insistiu para que experimentasse e eu não, deixe lá que eu tenho uma reunião às dezoito horas, e  ele ah, mas tem de experimentar isto antes de ir, e eu, deixe lá que eu prometo que volto, e ele não, não, aqui está o bilhete e deixou-me com o segurança e a Inveja e mandaram-me lá para dentro, o segurança com ar de pena de mim, a mostrar-me a Wall of Shame das pessoas que desistiram. E foi brutal. Lisboa tem agora uma casa do terror de nível internacional. Não sejam maricas e vão que vale bem a pena. Eu volto lá em breve.

Os últimos segundos não me deixaram de lágrima no canto do olho, isto é alergia ou algo assim


Han Solo e Chewbacca, algo que eu nunca mais pensei ver num cinema.

7 de abril de 2015

Há um ano, mais dia, menos dia

A minha vida ficava em suspenso e com ela uma década de dedicação ao ofício de vender livros nas suas mais variadas vertentes e em locais diversos, três livrarias em Cascais, uma em Lisboa, e mais do que suspender a minha actividade profissional, suspendi a vida de algumas pessoas que gostam de mim mais do que mereço, arrastando-os comigo numa travessia do deserto, uma espécie de noite longa e fria que parecia não ter fim. Nunca cheguei a bater no fundo: o fundo nunca chegou, as coisas iam se afundando mais e mais, eu ia ficando mais preso dentro de mim, em sítios piores e mais escuros e, por vezes, asssustadores, e eu a arrastá-la comigo, com ela sem saber o que me fazer. Mas também iam se sucedendo as pequenas esperanças, coisas que me mantinham de cabeça erguida e coração aberto. Faz um ano, parece que passou uma vida. Parece que foi ontem. Parece que ainda sinto um temor constante, um tremer interno que me impedia de viver (acontecem coisas estúpidas agora, como ouvir uma música que comecei a ouvir nessa altura e ela parecer-me completamente diferente, como se a não ouvisse toda ou tão fundo em mim), mas também parece que não se passou comigo: que não era eu. E, na realidade, não era. A Xana mudou-se, fruto de uma quantidade de circunstâncias, para minha casa no já relativamente perto do fim do pesadelo mas, no entanto, parece-me que ela sempre cá esteve, por muito que os factos me provem o contrário. Não tenho memórias de não a ter comigo, de estar sozinho: acho que, na verdade, nunca estive sozinho. 

6 de abril de 2015

Finalmente


Descobri isto graças à Madalena, e não caibo em mim de contente: finalmente vou acabar de ler a trilogia do McCarthy, desta vez juntando o Billy Parham da Travessia e o John Grady Cole do Belos Cavalos. 

30 de março de 2015

13

E eis que chego às treze vezes que vejo a minha banda preferida ao vivo. Acho que às vezes as pessoas não percebem a dimensão da coisa: vi os a tocar na íntegra, pela segunda vez, o Olhos de Mongol e, finalmente, o Casa Ocupada. Vê-los a tocar o Casa Ocupada, do princípio ao fim, equivale a alguém que seja fã ver os Nirvana a tocar o Nevermind, os Pearl Jam o Ten, os Sonic Youth o Daydream Nation e por aí fora. Agora sim, posso dizer que já os vi tocar as quarenta músicas da discografia (dois EP e três discos), mais umas cinco ou seis covers. Agora venham mais discos.

25 de março de 2015

Isto acaba por ser uma metáfora para uma quantidade de coisas que eu agora não tenho tempo nem paciência para explicar

Numa FNAC, algures sul, não conseguia encontrar um livro específico (degradante, para uma pessoa como eu) e lá fui perguntar ao rapaz de óculos de ângulos rectos que se encontrava empoleirado numa pata de elefante a arrumar livros de direito. O rapaz, simpático, encontrou o livro que queria sem grande dificuldade (estava atrás de outros, num sítio onde andei a ver, vergonha) e eu não pude deixar de demonstrar o meu espanto com o facto de não terem nenhum destaque às obras do Herberto Helder, nem sequer na poesia. A resposta dele foi sintomática: "ah, ainda não recebemos qualquer ordem lá de cima". E assim vai uma das maiores cadeias de livrarias (?) do país: um local onde morre o maior poeta vivo e não há qualquer homenagem à sua obra (eu já para nem falo de estarem a perder vendas...). Claro que mesmo que um dos livreiros se lembrasse de o fazer provavelmente seria admoestado por isso, agora cá a pensar pela própria cabeça, onde é que já se viu.

Faça-se a sua vontade

1930 - 2015
"O melhor que disseram de mim foi quando estiveram calados,"

23 de março de 2015

Dos lobos

Tudo terá começado aqui:



Não me lembro com que idade vi esta peça da Disney, aqui numa maravilhosa versão narrada pelo David Bowie (existe uma versão portuguesa narrada pela Eunice Muñoz, embora na minha cabeça a narração era feita por um homem), mas tenho a certeza de que era muito novo e esta curta teve bastante impacto em mim, lembro-me de rever até a cassete ficar gasta e de ter medo, tinha medo disto, do Thriller do Michael Jackson e da derrotas do Benfica. Não deixa de ser curioso que, ultimamente, tenho conseguido encontrar, com bastante precisão, o motivo de certas situações ou lugares me trazerem um sentimento familiar, talvez a minha ligeira obsessão com os clássicos russos da literatura venha desta composição de Prokofiev. 
E isto tudo para falar dos lobos, esse animal que tanto prezo e que sonho domesticar, tipo Jon Snow e o seu Ghost. Parece que não posso, diz que é ilegal. Talvez tenha um Husky, a seguir, se sobreviver emocionalmente à partida do meu cão.
Entretanto, comecei a ler isto, com expectativas demasiado altas para o meu gosto:


Uma reportagem sobre pastores e lobos, no interior português? Contem comigo. Estou a gostar, embora não tenha, para já, a riqueza literária de livros semelhantes como o Agora e Na Hora da Nossa Morte ou mesmo o Aleluia!. Mas até ver, e como tem o bónus dos lobos, vamos bem (tirando a parte do lobo ser um animal em vias de extinção).
Em termos de lobos nos livros, não podia deixar de mencionar esta maravilha:



Livro que muito prezo, e cuja primeira parte se centra na jornada do jovem Billy Parham até ao México para devolver uma loba que tinha capturado, depois de ter andado a sonhar com lobos. Se uma pessoa, para descrever o livro, utiliza a palavra lobo ou seus derivados mais que uma vez, então vamos no bom caminho. Sendo escrito pelo McCarthy, acho que conseguem desde já perceber que a coisa não vai correr pelo melhor na sua jornada. Toda a descrição da captura da loba, bem como dos seus movimentos, movimentações e instintos, são brilhantes. Sem querer entrar em terreno de spoilers, preocupei-me mais com o destino da loba do que de noventa por cento dos personagens de todos os livros que li. O McCarthy também menciona lobos noutras obras (com o Meridiano de Sangue à cabeça, claro), mas é neste que ele é mais forte e mais se alonga sobre o belo animal. "He said that men believe the blood of the slain to be of no consequence but that the wolf knows better. He said that the wolf is a being of great order and that it knows what men do not: that there is no order in this world save that which death has put there.” 


O Sonhos e Comboios é um romance catita, pequeno, lê-se muito bem e, lá está, tem um lobo. Uma rapariga-lobo, "a creature God didn’t create. She was made out of wolves and a man of unnatural desires.", que depois se torna num lobo real. 


Claro que um livro chamado Quando Os Lobos Uivam só podia estar destinado à grandeza: e é, sem dúvida, um livro do caraças. O linguajar das beiras pode provocar confusão a alguns mas não distrai da riqueza da obra (a passagem sobre a estadia no Brazil de uma personagem é dos melhores pedaços de literatura portuguesa que eu já li). Este livro tem lobos e dos bons, lobos da Beiras como deve ser. Mais uma vez, uma pessoa acaba por se afeiçoar ao bicho e depois já se sabe. 

20 de março de 2015

"Eu posso estar no escuro mas sei que as luzes se vão acender."

Foi em estações e comboios de um Portugal abandonado, num período de dois dias, em duas viagens, que li o Aleluia!. e gostei muito. Era agora que me daria jeito ter veia de crítico para esmiuçar a coisa, mas as minhas críticas são basicamente one-liners como não gostei, já li melhor, gostei, gostei muito. O livro para mim só peca por ser pequeno, podia ler muitas mais páginas sobre cada uma daquelas pessoas, pessoas que, provavelmente, debaixo de outra escrita não teriam o mesmo interesse, e é aí que reside, para mim, a melhor qualidade do livro.