7 de abril de 2015

Há um ano, mais dia, menos dia

A minha vida ficava em suspenso e com ela uma década de dedicação ao ofício de vender livros nas suas mais variadas vertentes e em locais diversos, três livrarias em Cascais, uma em Lisboa, e mais do que suspender a minha actividade profissional, suspendi a vida de algumas pessoas que gostam de mim mais do que mereço, arrastando-os comigo numa travessia do deserto, uma espécie de noite longa e fria que parecia não ter fim. Nunca cheguei a bater no fundo: o fundo nunca chegou, as coisas iam se afundando mais e mais, eu ia ficando mais preso dentro de mim, em sítios piores e mais escuros e, por vezes, asssustadores, e eu a arrastá-la comigo, com ela sem saber o que me fazer. Mas também iam se sucedendo as pequenas esperanças, coisas que me mantinham de cabeça erguida e coração aberto. Faz um ano, parece que passou uma vida. Parece que foi ontem. Parece que ainda sinto um temor constante, um tremer interno que me impedia de viver (acontecem coisas estúpidas agora, como ouvir uma música que comecei a ouvir nessa altura e ela parecer-me completamente diferente, como se a não ouvisse toda ou tão fundo em mim), mas também parece que não se passou comigo: que não era eu. E, na realidade, não era. A Xana mudou-se, fruto de uma quantidade de circunstâncias, para minha casa no já relativamente perto do fim do pesadelo mas, no entanto, parece-me que ela sempre cá esteve, por muito que os factos me provem o contrário. Não tenho memórias de não a ter comigo, de estar sozinho: acho que, na verdade, nunca estive sozinho. 

3 comentários:

Cho disse...

Só hoje vi o teu comentário num post meu em 2012. Incrível. Antes tarde que nunca. Obrigada. Mesmo.

Anónimo disse...

É preciso estar prestes a cair (na melhor das hipóteses) para saber verdadeiramente o que é o equilíbrio, o desequilíbrio e o equilibrista (que não temos de ser nós).

Abraço,

S_Mak

Mar disse...

Coisa mais bonita.