5 de setembro de 2013

Meme

Isto às vezes é um bocado como quem reencontra o amigo da adolescência, aquele dos bons, aquele de saltar muros e roubar nêsperas e levar com tiros de pressão de ar, aquele que te fazia cruzamentos milimétricos que uma pessoa, negligenciando o chão de alcatrão ou de terra batida com pedras salientes, a imortalidade era já ali, finaliza num glorioso pontapé de bicicleta, mesmo que não tenha havido o contacto merecido durante muito tempo, o reencontro dá-se e é como se nunca sequer tivéssemos estado dois dias afastados: não há silêncios incómodos, tudo é familiar e tudo flui. Com a escrita é assim. E uma pessoa escreve e vai escrevendo, lê e vai lendo, e acaba por dar por si demasiado enredado nisto das letras e é tarde demais. O meu superior directo ficou extremamente surpreendido, talvez chocado até, por eu preferir uma posição numa editora a dar o próximo passo lógico e ter responsabilidades a nível regional. É me muito fácil escolher: eu em não conseguindo escrever livros o melhor que posso fazer por ora é vendê-los, mas, se me dessem a oportunidade, gostava muito de ajudar a criá-los. No fundo, no fundo, o facto de ser um eterno escritor frustrado mexe com todas as facetas da minha vida. E isto torna-se assombroso quando percebemos que, mesmo que escrevêssemos todos os livros que queremos, esse desassossego nunca irá partir, o sonho é sempre mais rápido que a mão, foi o Einstein que disse isto. Não foi, mas se eu pegar numa foto dele a preto e branco e puser o texto passa a ser, é assim que isto funciona hoje em dia.

2 comentários:

Silent Man disse...

Antes de mais, que corra tudo bem nesse novo projecto!

Depois, tu escreves maravilhosamente. Mas talvez não tenhas cabeça para o fazer como emprego. E isso não tem mal nenhum...

Ricardo disse...

Ainda não há nenhum projeto, por agora vou continuar apenas a vender livros. Com muito gosto :D