13 de agosto de 2012

Na minha cabeça faz sentido

Estou cansado de fingir. Cansado. De não admitir. Porque fingirei eu que não sinto uma coisa que é uma âncora de dimensões homéricas, quando a sinto, foda-se, se a sinto. E é normal senti-lo. Mas, não admiti-lo faz-me acreditar, acho eu, não sei, se há coisa que compreendo mal sou eu próprio, que talvez passe mais depressa o tempo que estou sem ela, o tempo em que não a ouço a rir, em que não a ouço pedinchar qualquer coisa, em que não tenho mimos de uma espontaneidade que desarma o mais frio dos corações e o mais distante dos pensamentos, e, se, vergonha de pai, às vezes os meus pensamentos estão distantes. E todas as vezes em que caminhamos à saída do carro, aqueles escassos metros até casa, ela a subir as escadas do prédio e a voltar-se para trás, toda sorrisos, afinal está de regresso a casa, sabe que vai ter um cão louco a saltar-lhe para cima, e, para ela, o mundo finda naqueles poucos metros quadrados, tudo o que é e tudo o que vai ser está naquele sítio, numa entrada ventosa de um prédio, e eu, eu já deixei tantos bocados de mim por aí, e custa-me concentrar-me no que realmente importa naquele momento. Porque a sensação, e como é duro, é que quanto mais perto estou mais sou recordado de que é algo que nunca vou ter novamente, na medida certa, na medida que devia ser. E agora, agora, temos mais três semanas de separação... E eu a passar o dia como se nada fosse, as desculpas que invento para não pensar nisso, mas, o telefone toca a avisar a chegada sã e salva ao seu destino, e eis que tudo o que se planeia se desfaz com uma facilidade alarmante.
E assim, aqui estou eu: a viver novamente em contagem decrescente.