6 de junho de 2013

Isto entranha-se, bicho ruim

Já perdi a conta ao número de lançamentos a que já assisti e é curioso, ou talvez não, o facto de cada vez mais apreciar estes eventos, por vezes vale a pena ouvir o arrebatamento de um editor que transporta às costas uma crença e um entusiasmo que só ele consegue vislumbrar, uma espécie de menino mais alto que é o único que vê o paraíso do outro lado do muro e que conta aos mais pequenos o que vê, diversas vezes para descrença e confusão destes, por vezes vemos a concretização do sonho de um autor, uma materialização palpável num pueril sorriso de despertar de manhã chuvosa de natal ao ver familiares e amigos e convidados e desconhecidos a entrar numa sala, com prendas em forma de felicitações sonoras e abraços de vitória, outras vezes o discurso e o debate são cativantes, fruto de apresentadores, autores ou temas interessantes, por outro lado já tivemos lançamentos em que tínhamos um autor e uma sala cheia de cadeiras vazias, ouvintes difíceis e pouco atentas, as cadeiras, o olhar do escritor verte angústia para todos os cantos, da próxima será melhor, depois, de vez em quando, assisto a lançamentos mais rebuscados, acreditem que já tivemos coisas que não lembravam ao menino Jesus, e atenção que ele é gajo para ter boa imaginação, mesmo nesses acabo por encontrar motivos de interesse, alguns lançamentos fazem-me lembrar o alfa entre Lisboa e o Porto, começa tudo muito normal, um gajo fecha os olhos uma ou duas vezes e, quando damos por nós, não sabemos bem onde estamos e o que raio estamos a ver pela janela, ainda hoje o Pedro Mexia parou o discurso de apresentação para dizer esperem que agora estou a ser fotografado, o público ri-se e o paparazzo amador, a espreitar pela porta, de telemóvel em mão como se de uma cruz de exorcismo se tratasse, baixa o telefone e o Mexia diz não, não, esteja à vontade, pára um pouco de falar e depois retoma, enquanto os passos do fotógrafo de ocasião vão se perdendo pela rua, e a apresentação continua como se nada fosse, e ele há dias em que me apetece mandar os livros pelo rio abaixo e ir vender laranjas para a beira da estrada, com cartazes carregados de amor e erros ortográficos, mas depois assistem-se a estas coisas e conhecem-se certas pessoas e isto é tanto e às vezes é quase tudo e é maravilhoso e os anos passam e, supostamente, isto dos livros era coisa para ter durado um ano, pouco mais, vá, mas, nove anos depois, ainda aqui andamos.

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