6 de novembro de 2012

A soma de tanta horas

Um dia, antes de te ires deitar, começas a receber sms numa quantidade absurda, todas seguidas, tudo normal, afinal de contas, passa da meia-noite, fazes trinta e dois anos, recebes mensagens de pessoas que estavas à espera, outras nem tanto, ainda assim sentes-te grato pelas pessoas perderem trinta segundos da sua vida para te desejar os parabéns, a mesma coisa pelo facebook, esse facilitador de efemérides de maior ou menor  dimensão, depois ainda recebi por mail, é sempre mas sempre bom perceber que os amigos podem não se lembrar sempre mas nunca se esquecem, tal como eu não me esqueço deles, recebi mensagens até às três e quarenta e sete, hora a que o meu primo estava a chegar a Itália, de manhã repete-se o ritual, agora a atenção vira-se para a minha mãe, que tinha que ter o filho primogénito no dia de anos dela, rica prenda, ouço todos os anos, e, na verdade, até têm razão, não existe o meu aniversário, nunca existiu, existe sempre o nosso, e existirá sempre o nosso, mesmo quando um de nós não estiver lá, seremos sempre dois no bolo, seremos sempre dois a soprar as quatro velas, a música levará sempre um embaraçoso e descompassado para o menino Ricardo e menina Teresa uma salva de palmas, que ele há coisas difíceis de encaixar na métrica, e este amor é uma delas, os meus dela olhos verdes que hão de sempre olhar de baixo para cima, ainda que os calculistas centímetros queiram ditar que o pequenino agora é mais alto, a minha mãe ganha sempre no tamanho do coração, coração que tento emular da melhor maneira, mas fico tão tão longe, com a minha filha, quando a apanho ontem na escola e ela corre-me para os braços e enche-me de beijos e de mimos, quer me mostrar as quadras que fez e o desenho que fez, o orgulho que esta criança tem por mim é algo de belo, puro e descomunal, injustificado até, sou apenas o pai dela que faz anos, trinta e dois por sinal, isto para ela é quase terceira idade, para ela e não só, que aparentemente isto de ir a caminho dos quarenta, quando outras pessoas ainda se perdem no quente mar dos vinte, é coisa para causar a sua confusão, mas, pronto, nada que os abraços mais doces do mundo, e um vinil, não apaguem da minha memória, ainda que, confesso, continue a achar que ela me pôs algo na bebida, pois que eu não era assim e não queria tanta coisa e sentia tanta falta, coisa difícil de explicar, a maneira como a mente divaga para junto dela sempre que deve e não deve, para o dia de anos ter sido quase perfeito, além do toque dela, só faltou não ter recebido um mail que confirma que vou deixar de poder contar com um dos meus livreiro preferidos de sempre, uma pessoa incrível, de uma simplicidade e simpatia fora do comum, resta-me rezar para que ele seja feliz, que tudo lhe corra bem, e por favor, que volte, volte rápido de preferência, que isto de nos apegarmos às pessoas é uma doença ruim que, apesar de todos os cabelos brancos e corações partidos, ainda bem que não tem cura, tal como eu.

5 comentários:

SJ disse...

Parabéns velhote!
(ainda me faltam 2 meses para os 32)

Ricardo disse...

E eu que pensei que eras do mítico ano de 80, conheço boa gente de 81, embora isto de nascer em anos ímpares seja coisa do diabo :P

SJ disse...

Sou do mítico 80 sou, mas do penúltimo dia do ano.
(não foi coisa do diabo, foi coisa do médico que marcou a cesariana, ele não quis que eu nascesse em 81 para não entrar mais tarde na escola)

Ricardo disse...

Ah, eu fiz conta a dois meses a partir de hoje. É tão raro encontrar alguém do mesmo ano mais novo que eu, aliás, assim de repente não me lembro de mais ninguém.

Só podias ser de 80. A minha fé está restaurada.

Entravas um ano mais tarde e ias tipo génio para a escola ahaha

Passion Addicted disse...

Eu também sou de 80 e sou mais novo. Os 32 só daqui a 31 dias!

BTW, parabéns :)