30 de maio de 2012

The bakery

Chego à padaria onde tomo o pequeno-almoço, as funcionárias estão preocupadas com o facto do edifício ter sido comprado e de não saberem nada quanto ao seu futuro, "perguntem à Maya, pensei eu", mas isto sou eu que sou mal-disposto pela manhã, logo esta padaria que é o sítio onde consigo arejar durante dez minutos durante a manhã, sabendo de antemão que me posso cruzar com a Pipoca e vê-la na padaria é mais ou menos como ver um acidente na A5, um gajo não devia mas não resiste em andar mais devagar para poder ver, e depois diz "iiih, como isto está" enquanto abana a cabeça com pesar, é o sítio onde ouço conversas (quer da minha companhia, quer dos utentes da padaria) que não lembram ao menino Jesus, onde há um gajo que fala inglês, usa blazer e umas calças de fato-de-treino da adidas e usa um rabo-de-cavalo tipo Beckham há uns anos atrás, gajo esse que me deixa perplexo porque quem é que raio usa blazer e calças de fato-de-treino e ténis adidas e anda com um ipad e com uma senhora atrás com um ar exótico que fala inglês com ele e português com os demais e também tem um ipad, e eu sinto-me info-excluído por não ter um ipad, e já pensei em perguntar-lhe "who are you, what the hell are those clothes, can you give me an ipad please?", e talvez, talvez ele seja um gajo porreiro e até dava o ipad ao gajo que geralmente bebe um ucal enquanto pensa em tudo e em nada, e nisto lembro-me como as senhoras são lentas como tudo a despachar o serviço, e ok, admito, isso irrita-me mas é da maneira que consigo espairecer mais um pouco, e também há aquela rapariga em que por mais que a vejamos nós não conseguimos decidir se é gira ou não, nunca percebemos se é do sono ou que raio, mas a verdade é que ela não gera consenso à sua passagem e isso no fundo, no fundo, até pode ser algo positivo, e a curiosidade é que os Arctic Monkeys têm uma música chamada the bakery e que, no fundo, não tem nada a ver com isto mas que toca na minha cabeça quando lá vou, e depois também há uma senhora da padaria que convidou um colega meu para um  desfile de moda, e eu temo por ele porque ela tem 1,80m e deve pesar mais quarenta kilos que ele, e ele é bom livreiro e eu preciso dele na sala um, porque isto dos bons livreiros é como as boas padarias, há poucos e depois se perdemos os bons é uma chatice e depois tem que se arranjar outros e eventualmente, apesar de não nos lembrarmos dos antigos, vai-se a ver e não é a mesma coisa.

1 comentário:

RBM disse...

ricardo, somos vizinhos. também fiquei sem sitio onde tomar o pequeno almoço e sim tb receio de cruzamento com a pipoca e arrumadinho (já não me safei umas vezes)