12 de abril de 2012

Crepúsculo Vermelho no Oeste

"A areia estendia-se, azul, ao luar, e os aros de ferro das carroças rolavam por entre as silhuetas dos cavaleiros em anéis cintilantes, que se inclinavam de viés e revoluteavam, claudicantes e vagamente parecidos com instrumentos de navegação, dir-se-iam astrolábios esguios, e as ferraduras polidas dos cavalos erguiam-se uma e outra vez como que movidas por dobradiças, semelhantes a uma míriade de olhos a pestanejar sobre o solo do deserto."

Há muito tempo que não demorava tanto tempo a ler um livro. Não sei se é da violência extrema, desnecessária, cruel e impiedosa. A verdade é que este "Meridiano de Sangue" nos agarra bem por dentro, em sítios que poucos livros conseguem chegar.
É curioso comparar este século XIX com o mesmo período na Europa. Temos os Vronskis e os Sanins russos a viajar pela Europa, a conhecer mulheres em bailes e estâncias termais, a discutirem cavalos e a beijar pulsos e a deixarem-se arrebatar pelas Kareninas e Gemmas da vida. E depois, do outro lado do atlântico, temos os Holdens e os Glantons, basicamente a matar e a profanar tudo o que é vivo e sagrado e passível de matar e profanar.
A grande qualidade do McCarthy é a forma estranhamente lírica e inspiradora como descreve um deserto, uma ruína, uma alma perdida. Uma morte. A morte.
A seguir a este livro irá seguir-se um enorme vazio, semelhante ao que se seguiu ao 2666 do Bolaño. Não consigo imaginar sequer o que poderei ler a seguir a isto.

2 comentários:

Vicious disse...

O McCarthy é assustador de tão bom que é...

Ricardo disse...

Acredita.