11 de setembro de 2013

Chorando relâmpago

Será ao som do novíssimo AM que passarei esta noite, o carteiro não se atrasou e a encomenda chegou no tempo indicado, embora após o desejado, que eu sou menino para ficar com a birra se não tenho as novidades no dia e hora em que saem, a noite que é a véspera da entrada no quinto ano de escolaridade da criatura que dá pelo nome de minha filha, Catarina para o registo civil e religioso cristão e sócia do Sport Lisboa e Benfica desde a nascença, isto com trinta e dois anos é coisa para digerir com dificuldade, pois que a blogoesfera está a parir por todos os cantos e é ver os posts dos novinhos pais babados, com a maravilhosa e muy misteriosa carga da maternidade sobre os ombros, a soltar prosa poética paternal por todos os poros, e aqui uma pessoa, de cachimbo e whisky metafórico na mão, recostado no cadeirão, pousa o Guerra e Paz num só volume (metafórico também, a Relógio d'Água anda a brincar com as pessoas que isto era coisa para ter saído o ano passado), e sorri condescendentemente para o ecrã num claro sinal de "sim, eu já estive aí", mas a verdade é que não estive aí, esta gente dos blogs, coisa que à primeira vista é capaz de passar despercebida, é gente ajuizada e não está cá para se aventurar em viagens pelo mundo inóspito da paternidade aos vinte e dois anos, portanto não só não sei bem o que eles estão a passar como os invejo um bocadinho de nada, não saberei o que é ser pai na circunstância deles, tal como eles não saberão o que eu passei, os pontos positivos e negativos anulam-se e complementam-se e deixam-nos no ponto de partida, o importante é que aproveitem porque o tempo voa e quando damos por nós estamos à porta da Claire's à espera que a filha se decida pela milésima pulseira / brinco / caderno / inserir qualquer tipo de item que vos venha à cabeça dos One Direction, enquanto olhamos para o tecto vidrado do centro comercial e pensamos onde é que errámos e como, depois de ela sair feliz e contente, o faríamos outra vez.

1 comentário:

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Ainda bem que o carteiro não se atrasou, o tempo é precioso e voa, escasseia-se num piscar de olhos