25 de junho de 2013

Atenção ao espaço entre a plataforma e o comboio

Vejo por aí gente que devora livros nas férias como se não houvesse amanhã, o Thoreaux dizia para escrevermos como se tivéssemos os dias contados, porque na realidade o estão, com a leitura é a mesma coisa mas eu não consigo ler nada de jeito nas férias, nas folgas, em casa à noite, nunca tinha pensado muito nisso, será que a leitura e o objecto livro estão tão ligados a mim profissionalmente que opto por negligenciá-los inconscientemente durante as férias? Ando a passear o Conhecimento do Inferno, esse hino veraneante que é a viagem entre Albufeira e Lisboa de um Lobo Antunes a falar para a filha sobre a guerra e os psicólogos e o Miguel Bombarda e a vida e as copas das árvores e a loucura e a solidão, estou a gostar muito, vou lendo umas páginas aqui e ali mas, ao ritmo a que normalmente leio, já teria tempo para ter lido mais dois ou três livros, queria ler o Servidões como deve ser, queria começar o Submundo, talvez reler o Pena Capital, mas a verdade é que o Conhecimento do Inferno anda de férias comigo, a ver as vistas ou simplesmente parado numa mesa da sala, debaixo do Detectives Selvagens da senhora que lê umas coisas lá por casa, ou à mercê da baba do cão. O ano passado nas três semanas de férias só li o Três Tristes Tigres, começo a ver aqui um padrão, será que só consigo ler a sério no embalo mecânico do comboio?, num degrau da Anchieta?, num banco do Largo do S. Carlos?, nunca tinha pensado nisto, um dos males das férias é que uma pessoa tem tempo para pensar.

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