27 de abril de 2013

Polima sul

Sonhei que ia num autocarro, assim naqueles primeiros lugares logo a seguir a uma das portas do meio, ou de trás, já não sei bem, naqueles lugares que geralmente levam velhotas com hortaliças no colo e que gritam oooooh senhoooor quando o motorista não pára nas paragens, uma vez no quinto ou sexto ano apanhei um psicopata que saltou umas três paragens, daquelas todas muito próximas, deixando as velhotas de hortaliças no ar, foi a loucura, tipo tardes da Júlia mas em movimento, e eu sentado nesse lugar olhei em frente e vi o Roberto Bolaño e pensei o que qualquer pessoa normal pensaria: olha o Bolaño, isto num autocarro da carris com destino incenrto, e de seguida pensei: espera lá, mas o Bolaño está morto, algo que, segundo parece, não me incomodou sobremaneira pois, quando dei por mim, já caminhava rumo ao lugar dele para o interpelar, reparei, mal tive uma visão mais próxima dele, que ele trazia debaixo do braço todos os livros dele que existem editados em português, então abordei-o e disse Bolaño, e ele ficou a olhar para mim pensativo, tens que me assinar esses livros para mim, eu venero-te, por favor, e ele reforçou o olhar pensativo e disse gostava muito mas não posso, vou para uma conferência na casa da América Latina, preciso deles, e eu foda-se, mas tu estás morto e eu nunca mais vou conseguir um autógrafo teu, e ele tira um dos livros do monte e diz olha, dos meus não te posso dar, mas tenho aqui o O que o turista deve ver, do Fernando Pessoa, posso assinar-te esse?, e eu respondi é melhor que nada, e ele lá assinou e eu saí na paragem seguinte, agora giro, giro, era arranjar uma interpretação para isto, e, pelo sim, pelo não, quando andar de autocarro vou andar com o 2666 debaixo do braço.

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