3 de março de 2013

Mixtape

Há coisas que nos mudam a vida: a mixtape que o meu primo me deu em noventa e três foi uma delas. Não estava cheia, sequer, o lado b só tinha as três primeiras músicas do Chaos AD dos Sepultura. Não me recordo com o que preenchi a cassete. Lembro-me, isso sim, que uns tempos mais tarde um dos meus divertimentos era ligar a tv à aparelhagem e gravar as músicas directamente da MTV por satélite, do Headbanger's Ball e do Alternative Nation. Já o primeiro lado da cassete tinha pilares fundamentais na minha formação musical e, consequentemente, como pessoa. Gostava de me conseguir lembrar de todas as músicas, de certeza que havia uma ou outra banda que entretanto me passou ao lado e que agora iria de certeza apreciar. Mas há umas que não me esqueço: My Way e C'mon Everybody dos Sex Pistols, o Low de R.E.M (estes nunca me deu para ouvir... mas desta gostava), Where is My Mind dos Pixies (antes de o mundo se lembrar que eles existiam por causa do Fight Club), Epic de Faith No More, Youth Against Fascism dos Sonic Youth, Should I Stay or Should I Go dos Clash... O resto das músicas desse lado aparecem na minha cabeça meio inventadas pela minha imaginação: Depeche Mode, quase de certeza, talvez Joy Division, entre outras coisas. Sei que ouvi a cassete até ela se partir toda. Backup era para meninas. Sei que me fartei de emprestar o walkman nos intervalos. Sei que partilhei um dos lados dos headphones em incontáveis viagens de autocarro. Tenho quase a certeza que ele não se deve lembrar disto. Nem do momento em que tirou do armário o Use Your Illusion II e mudou a minha vida, no fundo. Eu não seria quem sou hoje se não tivesse estado sentado no chão, naquela noite, quando ele colocou a agulha no vinil e ouvi pela primeira vez o You Could Be Mine. 

Sem comentários: