28 de novembro de 2012

O que é que mudavas?

Se pudesses voltar atrás e repetir um momento e mudar algo nele, o que mudavas?, perguntaram-me hoje, e eu pensei pronto lá estão as perguntas esquisitas outra vez, que parvoíce, isso não é sequer possível, é um exercício à partida condenado ao fracasso que reside na impossibilidade da concretização, mas, a verdade é que comecei a pensar nisso, o que é que eu mudaria?, e comecei a ficar preocupado, não havia, assim de repente, nenhum momento que eu pudesse destacar em que dissesse é este o momento que eu escolheria para mudar, eu fiz merda, muita merda, magoei muitas pessoas de quem gostava, rapidamente cheguei à conclusão de que, a mudar alguma coisa, seria algo relacionado com isso, mas continuei sem conseguir concentrar-me num evento, num erro, pensei em muitas coisas, claro, acima de tudo percebi que cometi erros que se transformaram em coisas boas, obviamente que nem sempre boas para toda a gente, mas boas para mim e para as pessoas de quem eu gosto, pensei nas pessoas que me são tudo, nas pessoas que me construíram enquanto ser humano, errei com eles?, demasiadas vezes, claro, a perfeição é algo que não existe e algo da qual eu sou um bom oposto, mas não consigo encontrar aquele dia, aquele segundo em que tivesse que mudar, e isto deixa-me a pensar, será algo egoísta da minha parte?, estarei eu a esquecer-me de algo?,  não terei dado o devido valor a algumas pessoas?, podia ter feito a diferença na vida de alguém de outra maneira?, e, para complicar tudo ainda mais, mudava alguma coisa sabendo que o presente podia não ser o que é hoje?, a vida não é um conjunto de modelos pré-definidos que podemos aplicar nos problemas que nos vão surgindo, sei que é cliché, mas aprender com esses momentos em que erramos é essencial, durante muito tempo advoguei orgulhosamente que era uma pessoa que aprendia com os erros, meu Deus, como estava errado e como cometi tantos erros, tantas vezes, o abismo já ali, eu a acenar-lhe apaixonadamente, outros tempos, outros blogs, que isto agora é tudo branquinho e espíritos ao alto,  agora, deve ser da idade, que isto envelhecer não é só perder cabelo e ficar mais charmoso e ser mais irónico, parece que aprendi, finalmente, algumas coisas, especialmente que vivo hoje e agora, e é hoje e agora que tenho que fazer a Catarina sorrir, hoje e agora que tenho que fazer a senhora que me atura feliz, porque amanhã pode já não dar e eu não quero ter que pensar em hipóteses remotas e inexequíveis complementadas por justificações incongruentes para amenizar possíveis arrependimentos, portanto, não posso desfazer o que fiz quando magoei certas pessoas, sei que me perdoaram, tal como eu já perdoei, as pequenas e grandes coisas, e, graças a isso, sou hoje a pessoa que aqui vos escreve, deitado num sofá com um cão de quarenta e cinco quilos a aquecer-me as pernas e o coração, com o coração longe de mim e perto delas, meio dividido, e, acreditem, isto eu não mudava por nada. 

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