20 de outubro de 2012

Anda alguma coisa no ar, está confirmado

Hoje tirei bilhetes de metro para duas senhoras que não sabiam mexer na máquina, a máquina automática, como-lhe chamavam, um bonito conceito, um papão verde e azul de ecrã táctil e trato pouco dócil, uma delas confidenciou-me que, filho, até nem sei ler, a outra, ah eu sei ler mas não sei pagar as contas da luz e da água, eu fiquei a pensar na que não sabia ler, o que entenderá ela dos cartazes publicitários espalhados pela estação, miúdas giras, sentadas, de mão no queixo, em anúncios a créditos, a perdição pela salvação, o que lhe passará pela cabeça, será que tem ideia do que estão a anunciar, rezemos, para o bem dela, que o anúncio do fim do mundo chegue por escrito, já na baixa ajudei uma senhora de sotaque carregado, que fez questão de mencionar que não era de lá, algo que eu, pela pronúncia e pela pergunta de onde era o sítio para ir para o marquês, nunca adivinharia, eu sou só um gajo distraído de phones nos ouvidos e livro na mão, lá encaminhei a senhora, tanta gente desconhecida  a desejar-me um bom dia, espero que tenham razão, o dia logo se vê, a tarde passará pela sociedade de geografia, seremos as quatro pessoas mais perdidas no meio de tantos mapas, já a noite, a noite promete, mesmo que me perca tenho quem me encontre.

Sem comentários: