23 de agosto de 2012

All the pretty horses

"A água era negra e quente e ele voltou-se no lago e abriu os braços na água e a água era tão escura e tão sedosa e ele olhou sobre a superfície negra e imóvel, para o ponto onde ela estava parada na margem com o cavalo, e ficou a ver quando ela deixou para trás a poça de roupas, tão branca, tão branca, qual crisálida a emergir, e entrou na água.
Ela deteve-se a meio caminho para olhar para trás. Ali parada na água a tremer e não era por causa do frio, porque não fazia frio algum. Não fales com ela. Não a chames. Quando ela o alcançou, ele estendeu a mão e ela pegou-lhe. Era tão branca no lago que parecia estar a arder. Como fogo-fátuo num pedaço de madeira enegrecida. Que ardia sem calor. Como a Lua que ardia sem calor. O cabelo negro dela flutuava na água à sua volta, tombava e flutuava na água. Ela pôs o outro braço em volta do ombro dele e olhou para a Lua a oeste, não fales com ela, não a chames, e então ela virou o rosto e ergueu-o para ele. Mais doce pelo furto do tempo e da carne, mais doce pela traição. Grous junto aos seus ninhos na margem sul, apoiados numa só pata entre as canas, tinham erguido o bico afilado oculto sobre a asa para olhar. Me quieres? perguntou ela. Sim, disse ele. Disse o nome dela. Sim, meu Deus, disse."

Cormac McCarthy

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