17 de maio de 2012

Pontos Cardinais

Parte-se pela manhã. Madrugada, afinal de contas, mas desta vez já é de dia. Lugar 3/16, o do costume, as coisas fazem o sentido que tu queres que elas façam, sabes tão bem como eu. iPod carregado, livro aberto no sítio certo e tudo se movimenta para que tudo fique onde realmente é suposto estar.
Trocamos de comboio como quem troca de rádio no carro, haverá sempre algo melhor do outro lado. O nosso senhor há de estar a vir, deixa tudo pronto e reza para que tenhas validado o bilhete. Trocamos o sentido norte pelo sul, os momentos deslizam por entre as mãos como a areia onde me enterro quando te pego ao colo, à beira-mar. O tempo, ali, mede-se em ondas.
Estação quase vazia, momentos de silêncio em que tudo está parado e tu aí percebes porque é que a Sophia escrevia sobre aquele sítio, percebes porquê. 
Está calor, e eu vermelho do sol, as palavras "moreno", "olhos verdes" e "giro" são repetidas até à exaustão. Por mim, tu apenas ris-te com a graça que só tu tens, quando te ris. 
Está calor, dentro e fora de portas. Água fria, quente, morna. Não há Ray LaMontagne nem XX, há um silêncio que ultrapassa qualquer música. Pernas encostadas à parede, arranjas-te para sair como só tu sabes arranjar-te (os botões de punho da camisa, os botões de punho do casaco...). Pernas que nunca mais acabam. Como as saudades, sabes? Nunca mais acabam. 
O tempo salta até às lágrimas numa sala de cinema, num filme mau em boa companhia. E depois aqueles três quilómetros a pé numa cidade adormecida, ainda é hora dos amantes passearem, ida e volta, pesadelo entre o sonho, e o sonho continua logo antes de fechares os olhos. Cheiro a morango, pernas que nunca mais acabam (já te tinha dito?)
O sonho continua, em breve.