22 de janeiro de 2012

Para sempre

Durante um período de três, quatro anos, eu escrevi  muito. Foi há uns anos atrás. Escrevia em dois ou três blogs, para o DN Jovem, para mais uns quantos jornais e revistas, em concursos. Onde quer que encontrasse uma qualquer motivação eu escrevia. Era feliz, nessa altura. Perguntavam-me muitas vezes para quando o romance, para quando a obra de ficção, para quando uma coisa a sério. E eu pensava, com toda a minha ingenuidade típica da idade que tinha, que ainda não tinha maturidade para escrever aquilo que eu queria, o romance que havia dentro de mim. Um dia esse momento iria chegar.
A verdade é que passei por tanto depois disso. A última vez que escrevi a sério foi em 2008. A partir daí deixei de escrever. E nem sequer foi uma coisa gradual. Foi um corte a direito numa das coisas que me mais me completava. Passei por tanta coisa, vivi e senti coisas (boas e más, especialmente más) que nunca pensei vir a viver ou sentir. Mas, a necessidade de escrever não voltou. O prazer em escrever não voltou. Sempre usei a desculpa de que precisava de viver mais, para escrever. Mas agora vejo que não passava disso, de uma desculpa. 
Hoje em dia leio mais e melhor do que lia nessa altura. Lido com escritores, leitores e editores diariamente. Tenho conhecimentos e posição privilegiada no meio para poder editar algo meu. Sem grandes problemas. No entanto, falta o mais importante. Falta-me aquele sentimento que tive um dia, de ir pressionando uma tecla atrás da outra e ir pensando "é isto, é isto mesmo". 
Claro que ao ler o que deixei escrito para trás facilmente vejo que não tinha qualidade suficiente para ser editado. Mas, nunca foi esse o objectivo. Nunca foi. Escrevia para mim, porque me fazia bem. Tinha necessidade de criar. E hoje em dia esse prazer e essa necessidade desapareceram. 
Talvez escrevesse sempre para uma pessoa. E isso deixou de fazer sentido. Talvez fizesse tudo a pensar numa pessoa, e isso não faz definitivamente sentido. 
Sinto a falta de escrever um conto de rajada e arrebatar-me com o resultado (ainda que, à posteriori, nunca seja tão bom quanto parecia).
A conclusão é uma, e só uma: toda a inspiração que sentia desapareceu. Temo que para sempre. Resta-me a alegria de ver os meus sentimentos, medos e crenças tão bem descritos por terceiros. 


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